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SILVEIRA, Paulo Burnier da. O papel da OCDE no aprimoramento da política de defesa da
concorrência no Brasil: um breve balanço por ocasião dos 10 anos da Lei nº 12.529/2011.
Revista de Defesa da Concorrência, Brasília, v. 10, n. 1, p. 30-39, 2022.
https://doi.org/10.52896/rdc.v10i1.993
de escopo supranacional desses países. As principais recomendações se referem aos aspetos de de-
senho institucional e divisão de competências entre a UEE e as autoridades nacionais de concorrên-
cia de seus países-membros.5
4. ESTUDOS ESPECÍFICOS NO BRASIL
Há dois estudos especícos e recentes da OCDE no campo da defesa da concorrência no Bra-
sil que merecem destaque: o estudo sobre contratações públicas com foco no combate a cartéis em
licitação, publicado em 2021; e o estudo de avaliação concorrencial nos setores de portos e aviação
civil com uso de uma metodologia própria desenvolvida pela OCDE, que será publicado em 2022.
4.1. Contratações públicas
A OCDE possui Recomendações e Diretrizes especícas para combater carteis em licitações
públicas, que orientam países a avaliar periodicamente suas legislações e práticas em matéria de li-
citações públicas em todos os níveis do governo, com o objetivo de promover licitações mais ecazes
e reduzir o risco de cartéis em licitações. Esses instrumentos da OCDE também auxiliam os servidores
públicos a reduzir os riscos de cartéis, por meio da elaboração de editais de licitação, bem como
detectar sinais de alerta de comportamentos colusivos nos certames.
Estes estudos especícos da OCDE fornecem subsídios aos países para que transformem as
recomendações da organização em ação. Desse modo, a OCDE revisa os regimes de compras públi-
cas dos países analisados à luz de suas recomendações, apoiando-os no aperfeiçoamento de suas
legislações e práticas, visando o combate a cartéis em licitação. Esse exercício inclui um relatório
técnico com um diagnóstico do tema e recomendações de aprimoramento, podendo incluir também
a oferta de programas de capacitação técnica para servidores envolvidos em contratações públicas e
a elaboração de manuais de treinamento para os mesmos.
Na América Latina, estes estudos foram feitos no Brasil (2021), no Peru (2021), na Argentina
(2019), no México (2018, 2017, 2016, 2012, 2011) e na Colômbia (2014). Ou seja, os estudos podem bene-
ciar tanto os países membros como não-membros da OCDE.
No Brasil, o estudo destacou a importância das compras públicas no país tanto para a econo-
mia nacional, quanto para a qualidade dos serviços oferecidos pelo governo à população. Em 2020, o
governo federal brasileiro gastou cerca de R$ 35,5 bilhões em bens, serviços e obras. Em 2017, as com-
pras públicas representaram cerca de 13,5% dos gastos totais do governo e aproximadamente 6,5%
do PIB do país. Esses números indicam a relevância do tema e o tamanho dos prejuízos em caso de
colusão entre fornecedores, bem como fraudes e corrupção que, por vezes, acompanham as práticas
de cartel.
Estudos acadêmicos e da OCDE indicam que a existência de cartéis em licitações públicas
pode aumentar os preços em 20%. Em alguns casos, o sobrepreço pode ser ainda maior, como no
cartel de licitação pública para aquisição de portas giratórias de segurança para detecção de metais,
condenado pelo Tribunal do Cade em 2014. Nesta ocasião, o Departamento de Estudos Econômicos
do Cade estimou o sobrepreço em 25%, com signicativo prejuízo ao erário público.
5 Peer Review do UEE (OECD, 2021b).